Ao ligar o rádio, no domingo de Halloween de 1938, milhares de cidadão norte-americanos ouviram um alerta nacional, com o tom preocupado de um apresentador de notícias. “Os trechos que você vai ouvir na sequência são palavras do general de brigada Montgomery Smith, comandante da milícia estadual em Trenton, Nova Jersey.”
As criaturas estão usando uma misteriosa arma, que emite um raio de calor…
Em seguida, uma voz ainda mais grave comunica ações de evacuação. “Fui chamado pelo governador de Nova Jersey para manter os condados de Mercer e Middlesex, assim como ao longo do oeste de Princeton e leste de Jamesburg, sob lei marcial. Ninguém está permitido a transitar por essas áreas, exceto com uma autorização especial emitida pelo Estado ou por oficiais militares. Quatro companhias militares estão cobrindo de Trenton a Grover’s Mill e vão auxiliar na evacuação das residências na área das operações militares. Obrigado.”
Ao voltar para o estúdio, a descrição de um cenário assustador, com cerca de 40 corpos espalhados por todos os cantos. “Enquanto isso, chegam alguns detalhes sobre a catástrofe que acontece em Grover’s Mill. Após realizar um ataque mortal, estranhas criaturas estão voltando para suas covas”, diz o radialista, antes de interromper os relatos para um informe de última hora, com o cientista Professor Pierson. “As criaturas estão usando uma misteriosa arma, que emite um raio de calor…”
Esses são apenas alguns trechos de uma transmissão de rádio que durou 57 minutos, no dia 30 de outubro daquele ano. O que era para ser uma sessão de entretenimento, baseada no clássico livro de ficção científica “Guerra dos Mundos”, de H.G. Wells, tornou-se um dos episódios icônicos da Era do Rádio — e de como a manipulação da linguagem e da informação se transformariam em pontos cruciais para o desenvolvimento da tecnologia nos anos que viriam em seguida.
Tudo obra de um certo senhor Orson Welles
Nessa época, Orson Welles ainda não era o prestigiado cineasta imortalizado pelo “Rosebud” de “Cidadão Kane” — outra obra que explora os fenômenos midiáticos que até hoje estão presentes diariamente nas telas de nossos smartphones.
Aos 23 anos, quando já atuava e tinha uma companhia de teatro, foi convidado pela rede de rádio Columbia Broadcasting System (CBS) a produzir episódios para as novelas radiofônicas exibidas em formato de antologia no programa The Mercury Theatre on the Air.
Welles queria experimentar um diferente formato, e sua estreia foi arrebatadora. Ninguém imaginava que o que ele apresentaria seria uma história com uma narrativa tão próxima de uma verdadeira transmissão de plantão de notícias. E nem a mais criativa mente de sua época poderia pensar que o clássico “Guerra dos Mundos”, publicado 40 anos antes, seria adaptado dessa forma tão inventiva.
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