Objetivo é sensibilizar para a problemática do plástico de uso único; percurso prevê 6 paragens para inspirar comunidades sobre reaproveitamento de plástico; apenas 9% dos 9 bilhões de toneladas de plástico produzidas foram recicladas.
Um veleiro tradicional feito inteiramente de lixo plástico recolhido nas praias e cidades do Quénia fará sua viagem inaugural no final deste mês de Lamu no Quénia até Zanzibar na Tanzânia. A expedição de 500 quilómetros fará paragens em várias comunidades para mudar mentalidades sobre os resíduos de plástico.
O “FlipFlopi” é o primeiro veleiro de nove metros feito de 10 toneladas de plástico descartável. Foi construído por uma equipe que pede uma “revolução do plástico” para conter o fluxo de até 12 milhões de toneladas de resíduos plásticos que são despejados, todos os anos, nos oceanos. Outra meta é destacar o potencial da reutilização dos resíduos plásticos.
Campanha
A embarcação foi batizada no final de 2018 em Lamu e fez agora uma parceria com a campanha "Mares Limpos" da Agência da ONU para o Meio Ambiente, Pnuma, que envolve governos, setor público e setor privado na luta contra a poluição por plásticos. Nove países africanos já assinaram a campanha, prometendo tomar medidas para combater a poluição marinha.
A diretora executiva interina do Pnuma, Joyce Msuya, considera que o “FlipFlopi” é uma “prova viva” de que se pode viver de maneira diferente. Para a responsável, este barco é um “lembrete da necessidade urgente de repensar a forma como fabricamos, usamos e gerimos o plástico de uso único.”
A responsável destaca que o Quénia “demonstrou uma tremenda liderança ao abordar a epidemia do plástico descartável ao proibir os sacos plásticos.” Ela afirmou que se está a ir na direção certa, mas lembra que é necessária “uma mudança drástica nos padrões de consumo e nas práticas de gestão de resíduos em todo o mundo.”
Reciclagem
Segundo o Pnuma, apenas 9% dos 9 bilhões de toneladas de plástico que o mundo já produziu foram recicladas. A esmagadora maioria dos plásticos, incluindo garrafas, tampas, embalagens de alimentos, sacos e palhas, são de uso único, acabando em aterros sanitários e prejudicando o meio ambiente.
O Pnuma adianta ainda que 127 países em 192 já adotaram algum tipo de legislação para regulamentar os sacos de plástico e 27 países promulgaram leis que proíbem produtos específicos, por exemplo, pratos, copos, palhas, embalagens ou materiais específicos, como o poliestireno.
Quase dois anos depois de o Quénia ter introduzido a lei mais rígida do mundo para a utilização de sacos de plástico de uso único, o Projeto FlipFlopi pretende envolver o público em geral para pensar o plástico de maneira diferente.
Inovação
Fundado em 2016 para transmitir a mensagem sobre o impacto que o plástico está a ter nos ecossistemas marinhos, o projeto quer evidenciar também como isso nos afeta e, acima de tudo, o que deve ser feito.
A equipe do projeto teve que ser pioneira em novas técnicas para criar os vários componentes do barco. Os resíduos de plástico foram derretidos, moldados e esculpidos pela equipe de construtores destes barcos tradicionais exatamente como fariam com madeira. Cada elemento foi construído à mão e todo o barco foi revestido em folhas coloridas de chinelos reciclados, recolhidos nas praias de Lamu.
África
Em África, os detritos marinhos representam uma ameaça potencial à segurança alimentar, ao desenvolvimento económico e à viabilidade dos ecossistemas marinhos.
Com mais de 12 milhões de pessoas no continente a trabalhar no setor da pesca, o seu modo de vida é diretamente afetado pela poluição marinha. Adicionalmente, a proporção de ingestão de proteína do peixe é alta em toda a África.
Veja o vídeo de apresentação, em inglês, do Projeto FlipFlopi