Dos aparelhos que funcionam a pilha na mesa da cozinha, às rádios web. Desde a primeira transmissão no início do século 20 até aos dias de hoje, da era da internet, o meio de comunicação com maior audiência em todo o mundo tem-se reinventado constantemente. Com morte anunciada várias vezes, a rádio segue firme no seu papel de informar e entreter.
A data homenageia o veículo que segundo a Unesco “informa, transforma e une” as sociedades. Dados da agência indicam que a rádio chega a mais de 70% da população mundial.
Falando à ONU News de Brasília, o jornalista e diretor-geral da Radioweb no Brasil, Paulo Gilvane Borges, enfatizou que a rádio é o veículo que melhor se soube adaptar aos tempos modernos.
“Hoje as emissoras de rádio, que lá no início, quando a internet começou a ter a sua presença mais forte, algumas rádios difusoras acharam que a internet poderia ser uma adversária do rádio, mas acho que com o tempo, essas rádios difusoras, os empresários, e até quem é amante do rádio, é apaixonado pelo rádio, se deu conta de que a internet é uma aliada.”
Transição
A Unesco aponta que a face da rádio está em mutação. A transição do analógico para o digital é também, na opinião do jornalista e subdiretor da rádio portuguesa, TSF, Anselmo Crespo, uma oportunidade que traz novos desafios.
“O primeiro grande desafio da TSF é nunca baixar a guarda e conseguir ter o foco muito claro no jornalismo de rigor e no jornalismo de isenção. O segundo grande objetivo acho que tem de ser ter a capacidade de se reinventar, não só do ponto de vista da forma, como nós levamos a informação até às pessoas, mas também do ponto de vista do modelo de negócio, porque a digitalização veio obrigar a reinventar o modelo de negócio para possam continuar a ser sustentáveis, caso contrário correm o risco de desaparecer.”
Futuro
No caso do Brasil, Paulo Gilvane acredita que a digitalização ainda deve demorar a chegar. Mas o futuro envolverá mudanças na forma como se consome rádio.
Sempre tem os profetas do apocalipse que acham que quando surge uma nova tecnologia a anterior vai acabar. E em algumas situações isso até ocorre. Mas no caso do rádio, eu acho que a sobrevivência do rádio vai passar pelo conteúdo.
Porque se a gente for pensar na situação de hoje, em relação à música, nós temos aí todos estes fornecedores de música por demanda, de música por streaming. A partir de agora, creio eu, para poder atender estas novas gerações, estou falando isso daqui há 10,12,15 anos, é migrar para uma situação em que a sua programação terá basicamente conteúdo jornalístico, ou entretenimento.
Novas Tendências
Em Portugal, segundo a empresa de audiências Marktest, ainda é no carro que as pessoas usam mais a rádio. No entanto, mais de 1,3 milhões de pessoas já ouvem no telefone móvel. Uma tendência que exige adaptação, explica Anselmo Crespo.
“A TSF tem através das plataformas digitais, dos podcasts, das redes sociais, do seu site tentado chegar a mais público. A TSF hoje em dia não se preocupa apenas em ter áudio, preocupa-se também em ter bons textos para ler e em ter vídeo. E isso é exatamente a mudança de paradigma que a digitalização nos veio trazer. As pessoas têm tanta escolha que as marcas não se podem dar ao luxo de ficarem acantonadas numa das formas de dar a informação.”
Papel Social
Independentemente dos avanços tecnológicos, a função social da rádio continua tão presente hoje, como no passado. De alcance inigualável, graças ao seu baixo custo chega a comunidades remotas, vulneráveis e muitas vezes excluídas do acesso a outros meios.
Em Moçambique, segundo a diretora-geral do Instituto de Comunicação Social do país, Fárida Costa, 75% da população é informada pela rádio. Um veículo fundamental para promoção da paz e desenvolvimento:
“As rádios comunitárias do Instituto de Comunicação Social têm estado a garantir que as comunidades têm aceso a informação. Veiculam várias mensagens, desde mensagens para desenvolvimento, mensagens que digam respeito à vida do país. É através das rádios que as zonas rurais têm acesso â informação.”
Paulo Gilvane também destaca que a abrangência e a rapidez da rádio. Por isso, defende que o papel social da rádio continuará tão forte como sempre.
“No Brasil, 98% das residências têm rádio. No norte, isso é um pouco menor, mas chega perto dos 90%. O papel social do rádio é fundamental no Brasil, tanto é que hoje para se chegar, principalmente nas pessoas de baixa renda, por exemplo, vamos pensar numa situação de governo, campanhas de vacinação. Nós tivemos aqui recentemente esta tragédia de Brumadinho, pertinho de Belo Horizonte, que é a capital de Minas Gerais, que o rádio cumpre ali um papel fundamental de poder noticiar o que está acontecendo.”
Uma função que a Unesco destaca na edição deste ano do Dia Mundial da Rádio, com o tema “Diálogo, Tolerância e Paz.” O objetivo é incentivar os agentes da radiodifusão a promover o diálogo e o debate democrático sobre temas como a migração ou a violência de género.”